sexta-feira, 21 de março de 2008

Educação Social

Pesquisadores têm encontrado cada vez mais resultados que dão suporte às “abordagens de relacionamento” (aquelas com foco na qualidade da interação entre facilitador e criança) no tratamento do autismo. A texto abaixo explica o porquê. No final da postagem, encontram-se técnicas fáceis que você pode começar a aplicar imediatamente para encorajar o desenvolvimento social de sua criança com autismo.

As primeiras teorias viam o autismo como uma desordem comportamental e por conseqüência buscavam tratá-lo através da mudança comportamental, ou seja, o reforço de comportamentos não-autísticos e a punição de comportamentos autísticos para a eliminação dos sintomas do autismo. Esta perspectiva floresceu nos anos 50 (logo após as Síndromes do Autismo e de Asperger terem sido descritas pela primeira vez), quando a linha de pensamento em voga na psicologia era a comportamental, uma teoria que dotava de valor apenas o estudo do comportamento dos organismos, afirmando que a ciência não deveria investir no estudo de pensamentos, emoções ou experiências conscientes com o objetivo de compreender os seres humanos. Muitos trabalhos de pesquisa na área comportamental vieram de experimentos com o treinamento de animais. É deste ambiente científico que surgiram metodologias de tratamento para o autismo, como por exemplo, a ABA (Análise Aplicada do Comportamento) e várias formas da terapia original proposta por Ivan Lovaas.

Felizmente, a psicologia tem evoluído e percebido a importância crucial de se estudar os pensamentos, as emoções e a experiência consciente com o objetivo de melhor compreender os seres humanos. Desta psicologia mais moderna e holística tem sido construída uma nova perspectiva em relação ao autismo, associando o autismo com a dificuldade em se estabelecer relações básicas. Recentes estudos demonstram que é possível notar-se sinais precoces do autismo em crianças de cerca de 6 meses de idade. Atualmente, estes sinais costumam ser identificados apenas em retrospecto, mas os pesquisadores têm se esforçado para desenvolver métodos que possibilitem a identificação do autismo anterior aos 2 anos e meio ou 3 anos de idade.

Crianças com autismo (ou aquelas que num período posterior serão diagnosticadas com autismo) não se orientam socialmente de maneira típica. Isto significa que elas não prestam tanta atenção aos estímulos sociais como as outras crianças, estímulos como, por exemplo, um adulto chamando-as pelo nome ou olhando para o olho delas. Esta é uma habilidade social básica que crianças de desenvolvimento típico aprendem nos primeiros meses de vida. As crianças que têm um atraso na aprendizagem da habilidade de orientação social apresentam dificuldade no processamento de estímulos sociais e apresentam então atraso no desenvolvimento de habilidades como a atenção compartilhada (prestar atenção à mesma atividade ou tópico que outra pessoa está prestando) e a expressão de afeto (compartilhar experiências emocionais com outros).

Estes são passos cruciais durante os primeiros anos do desenvolvimento da criança e formam a fundação para todo o aprendizado social e boa parte do aprendizado cognitivo. Sem a habilidade de atenção compartilhada, o indivíduo não é capaz de sustentar uma conversa ou até envolver-se em uma simples brincadeira de cócegas por muito tempo. De maneira similar, esta criança não consegue colocar-se “no lugar de outra pessoa” e imaginar o que a outra pessoa possa estar pensando ou sentindo (desenvolvendo a Teoria da Mente), o que é vital para a participação em trocas sociais dinâmicas e espontâneas. Sem estas habilidades, a criança com autismo fica perdida na arena social – a qual modifica-se a todo instante – e procura focar em pontos que seu cérebro está melhor equipado para processar, como objetos e sistemas mecânicos não dinâmicos.
Ainda não está claro por que crianças com autismo respondem aos estímulos sociais desta maneira. Alguns pesquisadores apontam para o fato de os estímulos sociais apresentarem natureza complexa, diversificada e dinâmica, o que representaria para cérebros estruturados da maneira discutida na página anterior, Ambiente, um desafio maior na hora de serem processados (ou filtrados), em comparação com estímulos fixos e não dinâmicos.

Hoje em dia, é amplamente aceita entre a comunidade de psicólogos e pedagogos a noção de que crianças típicas aprendem através de interações sociais recíprocas e que os primeiros relacionamentos formam a fundação que possibilita as crianças sintam-se seguras para explorar o mundo. As crianças que se desenvolvem com um cérebro autístico tendem a ter dificuldade para engajar-se nesta educação social básica e fundamental.
Aqui estão alguns simples primeiros passos – porém de grande impacto – que você pode tomar para começar a redirecionar a educação social de sua criança.

1. Passe pelo menos 30 minutos por dia no quarto especial que você preparou para sua criança ou, neste estágio, em qualquer quarto silencioso onde você possa estar sozinho com a sua criança.
2. Siga a sua criança. Faça qualquer coisa que ela queira fazer. Não há nenhuma atividade em particular que você deva fazer, apenas faça o que a criança quiser. Procure divertir-se ao invés de tentar ensinar qualquer coisa para sua criança. Lembre-se que o simples ato de brincar com outra pessoa é a meta aqui, que a interação é muito mais importante para a criança com autismo do que qualquer informação que talvez você consiga ajudá-la a aprender neste ponto. Apenas divirta-se!

3. Tenha como foco o contato visual. Posicione-se em frente à sua criança e o quanto mais possível abaixo do nível do olho dela enquanto vocês brincam juntos. Antes de entregar um brinquedo para a criança, procure posicioná-lo próximo aos seus olhos, o que facilita que ela para você. Por fim, CELEBRE todas as vezes que sua criança olhar nos seus olhos – elogie, aplauda, cante – qualquer coisa que você tiver vontade de fazer para celebrá-la. O seu objetivo é fazer a experiência de contato visual prazerosa para sua criança. Brinque! Seja engraçado, ninguém está observando! Divirta-se com você mesmo, com sua criança e com o simples ato de olhar no olho desta preciosa pequena pessoa.
Extraído do site Inspirados pelo autismo

quinta-feira, 20 de março de 2008

A Ciência explica o autismo

O autismo é referido como uma desordem de espectro devido à grande variedade de sintomas presentes em pessoas com o diagnóstico. Pesquisadores, utilizando tecnologias que possibilitam o estudo da estrutura cerebral, também afirmam que os cérebros de pessoas com o diagnóstico de autismo variam vastamente de um para o outro. Por conseqüência, alguns cientistas têm sugerido que devemos estudar não apenas a estrutura do cérebro, mas também o mecanismo em que neurônios (células cerebrais) individuais se conectam e comunicam para que encontremos o problema de conexão neural que afete todas as pessoas com autismo. Pesquisadores têm encontrado evidências de que a maneira com que alguns neurônios são conectados no cérebro de pessoas com autismo pode levar a uma correlação baixa entre sinal e ruído.

Isto significa que muitos dos sinais que as células cerebrais estão enviando umas para as outras talvez venham acompanhados de “barulho” ou “ruído”, como a estática em um sinal de rádio. Esta é uma das explicações do por que crianças com autismo tornariam-se hiper-estimuladas por informações sensoriais e teriam então dificuldade para escolher entre duas fontes diferentes de informação. Por exemplo, é geralmente mais difícil para uma criança com autismo conseguir ouvir o que o professor fala quando outras crianças estão fazendo barulho.

Estudos analisando a eletricidade no cérebro de pessoas com autismo mostram que mesmo quando elas estão tentando ignorar certos aspectos de seu ambiente (como o barulho em uma sala de aula), seus cérebros respondem a estas informações do mesmo jeito que responde à informação que a criança está tentando prestar atenção (como a voz do professor). O problema para muitas crianças com autismo parece ser o de “filtragem”, isto é, elas são menos capazes do que as crianças típicas de filtrar e descartar a informação sensorial que é irrelevante para o que elas estão tentando prestar atenção. Conseqüentemente, os cérebros daqueles com autismo dão igual valor para todos os estímulos recebidos, causando um bombardeio de informação sensorial com o qual a criança tem de lidar. Os cérebros de crianças típicas aprendem a filtrar e descartar os estímulos irrelevantes durante os primeiros anos de vida, o que possibilita que, ao começarem a freqüentar a escola, consigam focar sua atenção na atividade pedida pelo professor. É muito difícil para um grande número de crianças com autismo conseguir aprender em um ambiente onde existem muitas informações sensoriais concomitantes (incluindo-se barulhos, toques, cheiros, estímulos visuais, etc.), como acontece em uma sala de aula.

Crianças com autismo estão absorvendo uma quantidade enorme de informação a todo o momento; isto significa que em algum ponto elas terão que escolher entre reter ou descartar essas informações. Estudos demonstram que, em comparação com pessoas neurotípicas, as pessoas com autismo tendem a retardar este processo de “escolha”. Uma analogia para este processo seria como andar pelos corredores de um supermercado e colocar em seu carrinho uma unidade de cada item a venda para apenas depois, na chegada ao caixa, descartar o que você não quer comprar. Isto causa uma demora no processamento de estímulos. Estudos com tecnologias que permitem ver que partes do cérebro estão sendo utilizadas durante uma tarefa confirmam que este é o fenômeno acontecendo dentro do cérebro de pessoas com autismo. Há mais atividade nas regiões do cérebro designadas para o processamento de baixa ordem (como o andar pelos corredores do supermercado) do que em regiões cerebrais especializadas para o processamento de alta ordem (passar pelo caixa e levar para casa os itens que constavam na sua lista de compras).

Talvez isto explique por que as crianças com autismo freqüentemente apresentam dificuldades em áreas de processamento de alta ordem (ex: memória, atenção, organização, linguagem, etc.). Elas passariam tanto tempo tentando lidar com a recepção de informação sensorial (baixa ordem) que acabariam não tendo tempo para praticar o processamento de alta ordem que outras crianças da mesma idade praticam. Desta forma, o cérebro da criança com autismo começaria a se desenvolver de forma diferenciada em relação ao cérebro de seu irmão com desenvolvimento típico. Há sinais de que este estilo de processamento da informação já se encontre presente na época do nascimento da criança, mesmo que os comportamentos autísticos não sejam identificados até os cerca de 18 a 24 meses de idade.

Especialistas dão a este estilo de processamento (que limita-se em parte ao processamento de baixa ordem) o nome de “fraca coerência central”. A coerência central refere-se à habilidade de processar contextualmente a informação recebida, associando informações para se chegar a um significado do todo, geralmente às custas da memória de detalhes. Assim sendo, na fraca coerência central haveria a tendência entre aqueles com autismo de prender-se ao processamento de detalhes ao invés da visão do todo em uma situação. Por exemplo, após olhar para figuras idênticas e receberem a requisição para se lembrarem do que estava na figura, uma pessoa típica provavelmente descreveria a cena como sendo “um pôr-do-sol na floresta”, enquanto que uma pessoa com autismo poderia descrevê-la como “folhas brilhantes, luz laranja e um galho com uma balança pendurada”. Este estilo de processamento é a razão pela qual algumas pessoas com autismo, em comparação com pessoas típicas, apresentam performances superiores em certas tarefas. Uma destas tarefas é o teste da figura inserida. Como um exemplo desta tarefa, a figura de um carro seria apresentada para as pessoas. Todas conseguiriam identificar facilmente o carro. Porém, quando fosse pedido que apontassem os três triângulos na figura, as pessoas sem autismo seriam muito mais lentas do que aquelas com autismo. Isto se deve ao fato de pessoas típicas focarem rapidamente no todo da figura, não prestando tanta atenção aos detalhes. As pessoas com autismo identificariam rapidamente os triângulos por estarem acostumadas a ver o mundo através dos detalhes.

Pesquisas envolvendo pessoas com autismo, desde estudos sobre como as células cerebrais conectam-se até estudos sobre como as pessoas atuam em testes psicológicos, nos oferecem a imagem de um mundo fragmentado, sobrecarregado e tomado por “barulho” para aqueles com autismo. Esta noção é confirmada por relatos autobiográficos de pessoas com autismo. A compreensão do mundo fragmentado e sobrecarregado de uma criança com autismo nos leva a ver a importância que tem o ambiente ao seu redor na elaboração dos programas educacionais e nos tratamentos que a ela são oferecidos. Também explica a razão das crianças com autismo procurarem ordem e previsibilidade em seus ambientes físicos.

Ambientes físicos com grandes quantidades de estimulação sensorial (ex: painéis com cores fortes, barulho de fundo, etc.) aumentaram o “barulho” num sistema sensorial já sobrecarregado, tornando extremamente difícil qualquer nova aprendizagem – como tentar aprender japonês dentro de um barulhento shopping center. Devido à presença de outras crianças e do tamanho do espaço físico necessário para abrigá-las, a sala de aula convencional é altamente limitada em termos de poder atender às necessidades das crianças com autismo. Até a iluminação por meio de lâmpadas fluorescentes, tão comum em salas de aula, tem sido apontada em estudos científicos como sendo um fator que afeta o comportamento de crianças com autismo. Infelizmente, estas considerações relativas ao ambiente da criança são geralmente desprezadas e têm sua importância desvalorizada quando programas educacionais são oferecidos para crianças com autismo, ou ficam além dos limites físicos e materiais das escolas convencionais.

Por Kat Houghton - Extraído do site Inspirados pelo Autismo

sábado, 8 de março de 2008

Auxílio na comunicação

Imagine-se em um outro país com uma cultura, hábitos, língua diferentes. Como você se sentiria neste lugar onde não consegue se comunicar ou compreender os atos das pessoas que são bem diferentes dos seus? A sua primeira reação provavelmente seria a de tentar manter uma comunicação. Da mesma maneira o autista precisa encontrar um caminho para se comunicar e, com isso diminuir sua frustração, trabalhar a socialização e seu crescimento como ser humano.Comunicação é uma área muito difícil para os autistas.

Algumas características dos autistas que dificultam a comunicação são: a distração, a dificuldade de processar instruções orais, manter atenção e organizar informações que estão recebendo. Também têm dificuldade de processar os cincos sentidos (tato, visão, audição, paladar, olfato) de uma só vez, ou mesmo de utilizar mais que um deles de cada vez. Esta inabilidade de ser compreendido afeta o comportamento podendo gerar maneiras inapropriadas para se comunicar como bater a cabeça, gritar, ou manter hábitos indicadores típicos do autismo. Um exemplo: os pais podem compreender que andar de um lado para o outro quer dizer que ele necessita ir ao banheiro, mas para outras pessoas esta ação não terá um significado a ser imediatamente compreendido. Conseqüentemente, se você estabelecer uma maneira de manter a comunicação, poderá eliminar muitos problemas de comportamento.

Muitos autistas têm uma compreensão limitada do processo de comunicação ou nenhum tipo de compreensão. Ao escolher um método de comunicação é necessário que a meta usada seja a de possibilitar ao autista conquistar sua independência, encorajar iniciativa, estabelecer uma comunicação espontânea conseguindo expressar suas vontades, necessidades, pensamentos, sentimentos, em diferentes situações e com distintas pessoas. Se um autista consegue efetivamente conquistar a habilidade da comunicação antes de atingir os seis anos de idade, terá melhores condições de desenvolver a comunicação e se tornar um autista de bom funcionamento.

Maneiras de trabalhar a comunicação:

» Dar ênfase ao lado visual;
» Rotina;
» Criar situações nas quais o indivíduo tenha que fazer uma escolha entre um objeto; que gosta e um objeto que não gosta;
» Estabelecer uma meta de comunicação para cada atividade;
» Encorajar interação com outras crianças;
» Encorajar brincadeiras nas quais tenha que se revezar.

Encorajar a comunicação:

» Validar qualquer tipo de comunicação.
» Encorajar atividades que envolvam materiais como atividades físicas, movimentos, música (incorpore música e movimento nas atividades).
» Encorajar a iniciação de comunicação (não antecipe as necessidades. Controle aceso aos objetos preferidos).

Problemas motores podem resultar em dificuldades no desenvolvimento da fala indicando a necessidade de estabelecer uma maneira alternativa de comunicação. Esses sistemas não são desenvolvidos para substituir a fala, mas para servirem como suplementos e facilitar a verbalização em de uma maneira eficaz.

» Gestos e apontar
» Comunicação com objetos e fotos
» Trocas de objetos ou fotos
» Fotos de símbolos com palavras
» Palavras e letras
» Linguagem de sinais

Estes métodos alternativos de comunicação podem oferecer uma maneira de comunicação que seja apropriada e afetiva e, com isso, poderá ocorrer a aprendizagem.

» Aprender o processo de comunicação.
» Engajar em comunicação intencional para expressar vontades e necessidades
» Experiência em trocar comunicação.

Apontar, gestos e birra podem ser apropriados para alguns. Comunicações mais simples são freqüentes para se poder começar uma comunicação funcional. Seja qual for o método de comunicação que você escolher, explicite-o, deixe-o sempre a mostra, faça com que ele seja reconhecido pelo autista.

» Troca de objetos funciona bem para pessoas que não apontam, que têm problemas de visão ou têm dificuldades com fotos (as fotos muitas vezes são abstratas no começo e podem ser usadas coladas em um objeto por elas representado - Exemplo: em um copo, colar a foto de um copo do PECS para pedir água). Uma maneira de introduzir esse método é criando uma caixa de objetos que a pessoa pode usar quando desejar pedir ou comunicar algo. A caixa poderá ser dividida em quatro ou mais divisões e as fotos separadas por classes (Exemplo: brinquedos; comidas; utensílios, etc.).

» Fotos (PECS) podem ser arrumadas em um fichário ou roteiro colocados na parede. Este sistema oferece o suporte visual necessário. (Pesquisas provam que este sistema e a linguagem de sinais também facilitam o desenvolvimento da fala, quando usados corretamente, para não criar dependência).

» A linguagem de sinais tem sido usada não só para surdos e mudos, mas também para pessoas com problemas de comunicação. Pode ser usada para cada palavra que você diz ou para palavras especificas que deseja acentuar. Este método tem sido uma maneira bem afetiva de ensinar comunicação e manter a atenção. Deve ser usado com consistência: em casa, na escola e nas atividades diárias.

» Estimule o individuo a fazer qualquer barulho para pedir algo. Então você dará o que ele deseja. Com isso, aos poucos ele descobrirá a importância de usar as palavras. Exemplo: "bis" para biscoito (coloque o biscoito em um lugar que ele não tenha acesso) faça de conta que não compreende o que está sendo pedido até que ele use o som "bis" (ao dar o biscoito fale "biscoito"). Quando começar a usar o "bis" para biscoito ensine outro som para representar outra coisa. Depois da criança aprender umas dez palavras aproximadamente e começar a falar claramente (não necessita ser perfeito), articule palavras até que ela comece a usar duas palavras juntas ("quero biscoito").

Fonte: Material produzido por Andréa Simon do site Autimismo

Ensinar a brincar

A brincadeira é a linguagem das crianças. Pela brincadeira se pode aprender a interação social, trabalhar a atenção, seqüências, habilidades, solucionar problemas, explorar sentimentos, desenvolver causa e efeito, estimular a criatividade. Com a falta de interação social, comunicação e problemas no comportamento muitos autistas vão necessitar de ajuda para estabelecer uma relação com outras crianças e muitos não sabem brincar, o que precisa ser ensinado. Para começar escolha algo que funcione com o autista, o que chamaria a sua atenção (dinossauros, tubarão, fadas, jogos, bola).

» Deixe a criança iniciar a brincadeira, fazer uma escolha.

» Se a criança recusar a sua presença na brincadeira comece apenas observando-a brincar, depois introduza comentários ("nossa, este carro é bem veloz!"). Não se preocupe se a criança ignorar seus comentários, continue a introduzi-los aos poucos.

» Ajude a criança a engajar-se na comunicação recíproca na brincadeira. Exemplo: a criança está brincando com um carrinho. Você pode pegar outro carro e dizer: "este carro amarelo corre melhor que o azul. Vou mostrar! Cadê o azul? Ah! aqui está". (Pegue o carro marrom e deixe a criança corrigir você). Cometa outros erros e comece uma corrida de carros com isso.

» Quando a criança estiver confortável em brincadeiras recíprocas, aumente a interação. Exemplo: Ela só quer brincar de carrinho, pegue um brinquedo de animal e peça carona, depois reclame que o cachorro está com fome proteste e insista, com o tempo a criança vai parar e brincar de alimentar o cachorro. Aumente a brincadeira e encontre alguns amigos para o lanche, como o elefante, leão, e outros, alargando o horizonte e os interesses da criança.

» Se for muito sobrecarregado para a criança este passo, volte um pouco para traz.

» Evite questionamentos e direcionamentos. Muita estrutura e perguntas nesta hora podem inibir tanto aa iniciativa da criança como o processo dela solucionar problemas.

» Quando a criança estiver se sentindo confortável com a brincadeira recíproca, você poderá direcionar a brincadeira para conceitos e seqüências que deseja trabalhar. Exemplo: Ela só brinca de carrinho e sempre os coloca na mesma ordem. Introduzindo o cachorro e novos problemas, a criança começará a dar atenção a outros brinquedos.

» Brinque e interaja. Pretenda ser um dos brinquedos e explore isso. Exemplo: Ao invés de dizer "venha e me ajude a construir um forte", seja um personagem que está pedindo ajuda. Converse com os brinquedos.

» Quando a criança estiver acostumada com este tipo de brincadeira tente mudar sua estrutura. Exemplo: Se ele só quer brincar com o carro azul, peça para deixar que você brinque uma vez com o carro azul.

» Se a atenção da criança for mínima, não puxe a brincadeira por muito tempo. O importante é ela aprender como é gostoso brincar com outras pessoas.Não se preocupe se está fazendo certo ou errado. Se divirta com o processo. O único erro é não brincar ou não tentar interagir com a criança.

FONTE: Autism Asperger´s Digest Magazine. (july-august 2003). pp 12a 14 e pp. 20 a 24.

Dez coisas...

Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse.
Por Ellen Nottohm

1) Antes de tudo eu sou uma criança.

Eu tenho autismo. Eu não sou somente "Autista". O meu autismo é só um aspecto do meu caráter. Não me define como pessoa. Você é uma pessoa com pensamentos, sentimentos e talentos. Ou você é somente gordo, magro, alto, baixo, míope. Talvez estas sejam algumas coisas que eu perceba quando conhecer você, mas isso não é necessariamente o que você é. Sendo um adulto, você tem algum controle de como se auto-define. Se quer excluir uma característica, pode se expressar de maneira diferente. Sendo criança eu ainda estou descobrindo. Nem você ou eu podemos saber do que eu sou capaz. Definir-me somente por uma característica, acaba-se correndo o risco de manter expectativas que serão pequenas para mim. E se eu sinto que você acha que não posso fazer algo, a minha resposta naturalmente será: Para que tentar?

2) A minha percepção sensorial é desordenada.

Interação sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Quer dizer que sentidos ordinários como audição, olfato, paladar, toque, sensações que passam desapercebidas no seu dia a dia podem ser doloridas para mim. O ambiente em que eu vivo pode ser hostil para mim. Eu posso parecer distraído ou em outro planeta, mas eu só estou tentando me defender. Vou explicar o porquê uma simples ida ao mercado pode ser um inferno para mim: a minha audição pode ser muito sensível. Muitas pessoas podem estar falando ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho da caixa registradora, celulares tocando, crianças chorando, pessoas tossindo, luzes fluorescentes. O meu cérebro não pode assimilar todas estas informações, provocando em mim uma perda de controle. O meu olfato pode ser muito sensível. O peixe que está à venda na peixaria não está fresco. A pessoa que está perto pode não ter tomado banho hoje. O bebê ao lado pode estar com uma fralda suja. O chão pode ter sido limpo com amônia. Eu não consigo separar os cheiros e começo a passar mal. Porque o meu sentido principal é o visual. Então, a visão pode ser o primeiro sentido a ser super-estimulado. A luz fluorescente não é somente muito brilhante, ela pisca e pode fazer um barulho. O quarto parece pulsar e isso machuca os meus olhos. Esta pulsação da luz cobre tudo e distorce o que estou vendo. O espaço parece estar sempre mudando. Eu vejo um brilho na janela, são muitas coisas para que eu consiga me concentrar. O ventilador, as pessoas andando de um lado para o outro... Tudo isso afeta os meus sentidos e agora eu não sei onde o meu corpo está neste espaço.

3) Por favor, lembre de distinguir entre não poder (eu não quero fazer) e eu não posso (eu não consigo fazer)

Receber e expressar a linguagem e vocabulário pode ser muito difícil para mim. Não é que eu não escute as frases. É que eu não te compreendo. Quando você me chama do outro lado do quarto, isto é o que eu escuto "BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João". Ao invés disso, venha falar comigo diretamente com um vocabulário simples: "João, por favor, coloque o seu livro na estante. Está na hora de almoçar". Isso me diz o que você quer que eu faça e o que vai acontecer depois. Assim é mais fácil para compreender.

4) Eu sou um "pensador concreto" (CONCRETE THINKER).

O meu pensamento é concreto, não consigo fazer abstrações.Eu interpreto muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para mim quando você diz "não enche o saco", quando o que você quer dizer é "não me aborreça". Não diga que "isso é moleza, é mamão com açúcar" quando não há nenhum mamão com açúcar por perto e o que você quer dizer é que isso e algo fácil de fazer. Gírias, piadas, duplas intenções, paráfrases, indiretas, sarcasmo eu não compreendo.

5) Por favor, tenha paciência com o meu vocabulário limitado.

Dizer o que eu preciso é muito difícil para mim, quando não sei as palavras para descrever o que sinto. Posso estar com fome, frustrado, com medo e confuso, mas agora estas palavras estão além da minha capacidade, do que eu possa expressar. Por isso, preste atenção na linguagem do meu corpo (retração, agitação ou outros sinais de que algo está errado).Por um outro lado, posso parecer como um pequeno professor ou um artista de cinema dizendo palavras acima da minha capacidade na minha idade. Na verdade, são palavras que eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar a minha deficiência na linguagem. Por que eu sei exatamente o que é esperado de mim como resposta quando alguém fala comigo. As palavras difíceis que de vez em quando falo podem vir de livros, TV, ou até mesmo serem palavras de outras pessoas. Isto é chamado de ECOLALIA. Não preciso compreender o contexto das palavras que estou usando. Eu só sei que devo dizer alguma coisa.

6) Eu sou muito orientado visualmente porque a linguagem é muito difícil para mim.

Por favor, me mostre como fazer alguma coisa ao invés de simplesmente me dizer. E, por favor, esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições consistentes me ajudam a aprender. Um esquema visual me ajuda durante o dia-a-dia. Alivia-me do stress de ter que lembrar o que vai acontecer. Ajuda-me a ter uma transição mais fácil entre uma atividade e outra. Ajuda-me a controlar o tempo, as minhas atividades e alcançar as suas expectativas. Eu não vou perder a necessidade de ter um esquema visual por estar crescendo. Mas o meu nível de representação pode mudar. Antes que eu possa ler, preciso de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o meu crescimento, uma combinação de palavras e fotos pode ajudar mais tarde a conhecer as palavras.

7) Por favor, preste atenção e diga o que eu posso fazer ao invés de só dizer o que eu não posso fazer.

Como qualquer outro ser humano não posso aprender em um ambiente onde sempre me sinta inútil, que há algo errado comigo e que preciso de "CONSERTO". Para que tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado? Construtivamente ou não é uma coisa que vou evitar. Procure o meu potencial e você vai encontrar muitos! Terei mais que uma maneira para fazer as coisas.

8) Por favor, me ajude com interações sociais.

Pode parecer que não quero brincar com as outras crianças no parque, mas algumas vezes simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se você pode encorajar outras crianças a me convidarem a jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez eu fique muito feliz por ser incluído. Eu sou melhor em brincadeiras que tenham atividades com estrutura começo-meio-fim. Não sei como "LER" expressão facial, linguagem corporal ou emoções de outras pessoas. Agradeço se você me ensinar como devo responder socialmente. Exemplo: Se eu rir quando Sandra cair do escorregador não é que eu ache engraçado. É que eu não sei como agir socialmente. Ensine-me a dizer: "você esta bem?".

9) Tente encontrar o que provoca a minha perda de controle.

Perda de controle, "chilique", birra, mal-criação, escândalo, como você quiser chamar, eles são mais horríveis para mim do que para você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos foi estimulado ao extremo. Se você conseguir descobrir o que causa a minha perda de controle, isso poderá ser prevenido - ou até evitado. Mantenha um diário de horas, lugares pessoas e atividades. Você encontrar uma seqüência pode parecer difícil no começo, mas, com certeza, vai conseguir. Tente lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Isso dirá a você o que as minhas palavras não podem dizer: como eu sinto o meu ambiente e o que está acontecendo dentro dele.

10) Se você é um membro da família me ame sem nenhuma condição.

Elimine pensamentos como "Se ele pelo menos pudesse…" ou "Porque ele não pode…" Você não conseguiu atender a todas as expectativas que os seus pais tinham para você e você não gostaria de ser sempre lembrado disso. Eu não escolhi ser autista. Mas lembre-se que isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda a minha chance de alcançar uma vida adulta digna será pequena. Com o seu suporte e guia, a possibilidade é maior do que você pensa. Eu prometo: EU VALHO A PENA. E, finalmente três palavras mágicas: Paciência, Paciência, Paciência. Ajuda a ver o meu autismo como uma habilidade diferente e não uma desabilidade. Olhe por cima do que você acha que seja uma limitação e veja o presente que o autismo me deu. Talvez seja verdade que eu não seja bom no contato olho no olho e conversas, mas você notou que eu não minto, roubo em jogos, fofoco com as colegas de classe ou julgo outras pessoas? É verdade que eu não vou ser um Ronaldinho "Fenômeno" do futebol. Mas, com a minha capacidade de prestar atenção e de concentração no que me interessa, eu posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh. Eles também tinham autismo, uma possível resposta para alzaheim o enigma da vida extraterrestre - O que o futuro tem guardado para crianças autistas como eu, está no próprio futuro. Tudo que eu posso ser não vai acontecer sem você sendo a minha Base. Pense sobre estas "regras" sociais e se elas não fazem sentido para mim, deixe de lado. Seja o meu protetor seja o meu amigo e nós vamos ver ate onde eu posso ir. CONTO COM VOCÊ!!!

Extraído do site Autimismo

Peu cresceu e O Mundo de Peu também mudou.

Bem-vindo ao blog O Mundo de Peu! Olá, tudo bem? Meu nome é Marcelo Rodrigues, pai de Pedro (Peu), sou o criador do blog O Mund...