sexta-feira, 21 de março de 2008

Educação Social

Pesquisadores têm encontrado cada vez mais resultados que dão suporte às “abordagens de relacionamento” (aquelas com foco na qualidade da interação entre facilitador e criança) no tratamento do autismo. A texto abaixo explica o porquê. No final da postagem, encontram-se técnicas fáceis que você pode começar a aplicar imediatamente para encorajar o desenvolvimento social de sua criança com autismo.

As primeiras teorias viam o autismo como uma desordem comportamental e por conseqüência buscavam tratá-lo através da mudança comportamental, ou seja, o reforço de comportamentos não-autísticos e a punição de comportamentos autísticos para a eliminação dos sintomas do autismo. Esta perspectiva floresceu nos anos 50 (logo após as Síndromes do Autismo e de Asperger terem sido descritas pela primeira vez), quando a linha de pensamento em voga na psicologia era a comportamental, uma teoria que dotava de valor apenas o estudo do comportamento dos organismos, afirmando que a ciência não deveria investir no estudo de pensamentos, emoções ou experiências conscientes com o objetivo de compreender os seres humanos. Muitos trabalhos de pesquisa na área comportamental vieram de experimentos com o treinamento de animais. É deste ambiente científico que surgiram metodologias de tratamento para o autismo, como por exemplo, a ABA (Análise Aplicada do Comportamento) e várias formas da terapia original proposta por Ivan Lovaas.

Felizmente, a psicologia tem evoluído e percebido a importância crucial de se estudar os pensamentos, as emoções e a experiência consciente com o objetivo de melhor compreender os seres humanos. Desta psicologia mais moderna e holística tem sido construída uma nova perspectiva em relação ao autismo, associando o autismo com a dificuldade em se estabelecer relações básicas. Recentes estudos demonstram que é possível notar-se sinais precoces do autismo em crianças de cerca de 6 meses de idade. Atualmente, estes sinais costumam ser identificados apenas em retrospecto, mas os pesquisadores têm se esforçado para desenvolver métodos que possibilitem a identificação do autismo anterior aos 2 anos e meio ou 3 anos de idade.

Crianças com autismo (ou aquelas que num período posterior serão diagnosticadas com autismo) não se orientam socialmente de maneira típica. Isto significa que elas não prestam tanta atenção aos estímulos sociais como as outras crianças, estímulos como, por exemplo, um adulto chamando-as pelo nome ou olhando para o olho delas. Esta é uma habilidade social básica que crianças de desenvolvimento típico aprendem nos primeiros meses de vida. As crianças que têm um atraso na aprendizagem da habilidade de orientação social apresentam dificuldade no processamento de estímulos sociais e apresentam então atraso no desenvolvimento de habilidades como a atenção compartilhada (prestar atenção à mesma atividade ou tópico que outra pessoa está prestando) e a expressão de afeto (compartilhar experiências emocionais com outros).

Estes são passos cruciais durante os primeiros anos do desenvolvimento da criança e formam a fundação para todo o aprendizado social e boa parte do aprendizado cognitivo. Sem a habilidade de atenção compartilhada, o indivíduo não é capaz de sustentar uma conversa ou até envolver-se em uma simples brincadeira de cócegas por muito tempo. De maneira similar, esta criança não consegue colocar-se “no lugar de outra pessoa” e imaginar o que a outra pessoa possa estar pensando ou sentindo (desenvolvendo a Teoria da Mente), o que é vital para a participação em trocas sociais dinâmicas e espontâneas. Sem estas habilidades, a criança com autismo fica perdida na arena social – a qual modifica-se a todo instante – e procura focar em pontos que seu cérebro está melhor equipado para processar, como objetos e sistemas mecânicos não dinâmicos.
Ainda não está claro por que crianças com autismo respondem aos estímulos sociais desta maneira. Alguns pesquisadores apontam para o fato de os estímulos sociais apresentarem natureza complexa, diversificada e dinâmica, o que representaria para cérebros estruturados da maneira discutida na página anterior, Ambiente, um desafio maior na hora de serem processados (ou filtrados), em comparação com estímulos fixos e não dinâmicos.

Hoje em dia, é amplamente aceita entre a comunidade de psicólogos e pedagogos a noção de que crianças típicas aprendem através de interações sociais recíprocas e que os primeiros relacionamentos formam a fundação que possibilita as crianças sintam-se seguras para explorar o mundo. As crianças que se desenvolvem com um cérebro autístico tendem a ter dificuldade para engajar-se nesta educação social básica e fundamental.
Aqui estão alguns simples primeiros passos – porém de grande impacto – que você pode tomar para começar a redirecionar a educação social de sua criança.

1. Passe pelo menos 30 minutos por dia no quarto especial que você preparou para sua criança ou, neste estágio, em qualquer quarto silencioso onde você possa estar sozinho com a sua criança.
2. Siga a sua criança. Faça qualquer coisa que ela queira fazer. Não há nenhuma atividade em particular que você deva fazer, apenas faça o que a criança quiser. Procure divertir-se ao invés de tentar ensinar qualquer coisa para sua criança. Lembre-se que o simples ato de brincar com outra pessoa é a meta aqui, que a interação é muito mais importante para a criança com autismo do que qualquer informação que talvez você consiga ajudá-la a aprender neste ponto. Apenas divirta-se!

3. Tenha como foco o contato visual. Posicione-se em frente à sua criança e o quanto mais possível abaixo do nível do olho dela enquanto vocês brincam juntos. Antes de entregar um brinquedo para a criança, procure posicioná-lo próximo aos seus olhos, o que facilita que ela para você. Por fim, CELEBRE todas as vezes que sua criança olhar nos seus olhos – elogie, aplauda, cante – qualquer coisa que você tiver vontade de fazer para celebrá-la. O seu objetivo é fazer a experiência de contato visual prazerosa para sua criança. Brinque! Seja engraçado, ninguém está observando! Divirta-se com você mesmo, com sua criança e com o simples ato de olhar no olho desta preciosa pequena pessoa.
Extraído do site Inspirados pelo autismo

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