sábado, 23 de fevereiro de 2008

Novo olhar sobre o autismo

Um novo caminho para o tratamento do autismo tem provocado o debate entre os profissionais mais respeitados e melhorado a qualidade de vida de muitas crianças. O que antes era considerado uma doença apenas mental, hoje se admite que é multifatorial e, com tratamento biológico, pode-se obter um grande avanço.

As pesquisas começaram nos Estados Unidos e têm médicos aderindo ao tratamento no mundo inteiro. No Brasil, já existem especialistas que indicam o método, mas faltam pesquisas mais amplas. Porém, as mães da Associação em Defesa do Autismo (Adefa Brasil) não têm dúvidas: “nossos filhos têm metais pesados altos, cândida, a flora enzimática alta. Então tudo o que eles falam lá fora é verdade, eles têm o organismo mais sensível e estão intoxicados”.

O neurologista Jorge Luis Baleta explica que o tratamento começa com a melhora da parte intestinal. Nas crianças autistas há um comprometimento do intestino, que não permite a absorção de alguns nutrientes e vitaminas e permite a passagem de substancias tóxicas, resultando nos sintomas. Alguns especialistas chamam esse tipo de intestino de “intestino furado”, causado por lesões da mucosa do intestino, seja pelo uso de antibióticos numa idade precoce, ou pela presença de bactérias ou fungos, principalmente pelas cândidas (um fungo capaz de produzir toxinas e causar lesões na mucosa intestinal). Jorge Baleta explica que o intestino que tem essas lesões tem a aparência de um queijo suíço, com alguns furinhos. Através desses furos substâncias tóxicas podem ser absorvidas pelo intestino e passarem para o sangue, chegando ao cérebro e causando manifestações dos sintomas autistas.

Mas o neurologista diz que existem dois tipos de autismo, o tipo 1 e o tipo 2. No tipo 1 há uma influência genética na aparição dos sintomas. Geralmente, desde os primeiros meses, o bebê apresenta uma irritabilidade, alteração no comportamento, não dorme bem, então, a mãe fica preocupada. Com seis meses, as crianças, normalmente, já começariam a sorrir e a abraçar, mas o autista não sorri, só fica com a mãe e angustiado. Desde pequeno o bebê evolui com o autismo e esse tipo é muito difícil de tratar, mas com o tratamento biológico, eles melhoram, apesar de não haver uma possibilidade de cura.

No autismo tipo 2, a criança não tem nenhuma carga genética, ou a carga genética é muito leve. As crianças são aparentemente normais, evoluem normalmente, têm afeto pelos pais, olham nos olhos, chegam a falar algumas palavras e, de repente, geralmente depois do primeiro ano de vida, começam a regredir e a apresentar os sintomas de autistas, perdem a fala, apresentam irritabilidade e a auto-agressão.

O mais preocupante é que o autismo tipo 2 está aumentando no mundo todo. O neurologista Jorge Baleta afirma que o aparecimento desses sintomas coincide com o uso da vacina combinada MMR, que as crianças tomam contra caxumba, sarampo e rubéola. Ele diz que, pela medicina ortomolecular foi investigado que essas crianças têm aumento do mercúrio no cabelo e em alguns tecidos do organismo, então foi observado que elas estavam intoxicadas por mercúrio. “Uma das causas do autismo tipo 2 se presume que seja pela intoxicação do mercúrio, através das vacinas que usamos”, argumenta.

Willian Shaw, doutor em bioquímica e fisiologia humana pelo departamento de medicina da Universidade da Carolina do Sul, também acredita no desenvolvimento do autismo através da intoxicação. Ele diz que muitas vacinas usam mercúrio como conservante e afirma que estudos mostram que é nocivo. “Mas é claro que isso é tremendamente controverso, porque muitos pais terão batalhas judiciais contra as empresas farmacêuticas e é claro que as empresas perderão bilhões de dólares se perderem a causa. Por isso o debate é muito forte”, explica.

As crianças com autismo têm uma habilidade menor para remover o mercúrio do organismo. Um dos fatores é que esses compostos provocam “armadilhas de oxilatos” que aprisionam os metais pesados como o mercúrio e o chumbo, impedindo a eliminação dessas substâncias. Outras crianças podem não ser afetadas por terem um sistema genético mais eficiente, que elimina esses produtos tóxicos.

Willian Shaw diz que, nos Estados Unidos, apesar das controvérsias o governo americano determinou que tirassem o mercúrio das vacinas. “O que eu estou recomendando; e o que está de fato acontecendo no EUA, é que o governo disse às companhias para tirarem o mercúrio das vacinas, mas sem admitir que elas estejam erradas”. Ele garante que estudos mostraram que a taxa de autismo começou a diminuir, depois que o mercúrio foi retirado. “Assim, acredito que nos próximos 10 anos, poderemos saber com certeza, se a epidemia de autismo acabar, que estávamos certos”, declara.

Segundo Willian Shaw, o ideal seria sempre fazer testes para descobrir quais crianças reagiriam mal a essas substâncias, evitando também reações ruins a vacinas. Ele explica que, hoje, é muito caro, mas acredita que pode ficar mais barato, com o passar do tempo. “A tecnologia melhorando, esses exames ficariam mais baratos e, eventualmente, as pessoas poderão pagar por esses testes. Do jeito que as coisas estão, só as pessoas ricas teriam como pagar esses testes. Em 20 anos talvez fique mais barato, ou o próprio governo possa arcar com esses gastos”, explica. O especialista diz que custa entre 500 dólares e 1000 dólares para fazer todos os testes necessários. Mas acredita que o dia em que eles se tornarem mais comuns, poderiam custar apenas 30 dólares.

Epidemia

Willian Shaw garante que há uma epidemia de autismo e explica que, em 1970, existia um autista em 2.000 pessoas, enquanto hoje em dia é um autista em 100. “Em qualquer grupo maior, hoje em dia, haverá uma criança autista e duas ou três com Síndrome de Deficiência de Atenção”, diz. O especialista explica que existem os fatores genéticos, mas a maioria das crianças com autismo tem habilidade menor para eliminar os produtos tóxicos. “Elas são mais suscetíveis.
Nós achamos que se elas não tivessem sido expostas a esses produtos tóxicos, elas não teriam autismo. Elas têm um sistema bioquímico mais fraco para eliminar uma variedade de produtos tóxicos”, afirma.

Além do mercúrio, existem outros tipos de contaminação: alimentos que as crianças são alérgicas e abuso na utilização de antibióticos são problemas graves, pois provocam a presença de microorganismos anormais no intestino. “Se restaurarmos o intestino com os microorganismos corretos isso também ajudará as crianças”, explica o biomédico.

Willian Shaw trabalha há 12 anos com autismo e garante que há 10 houve muitas descobertas nas causas e tratamento da doença. “Autismo pode ser tratado e, se o tratamento for iniciado cedo, pode ser curado. Mesmo se a cura não for possível, o autista melhora bastante”, garante o especialista. Willian Shaw considera que o ideal é começar o tratamento antes dos seis anos, mas, mesmo em adultos, o tratamento pode ser efetivo. Ele diz que adultos autistas que perderam a fala, devido a envenenamento por metais pesados, voltaram a falar depois de 40 anos, depois que os metais pesados foram eliminados do organismo. “Quando os diversos tratamentos melhorarem, pessoas mais velhas poderão ser curadas”, acredita.

Em muitos casos, é preciso continuar o tratamento. Willian Shaw explica que, um dos passos é a retirada da comida enlatada. “No mundo todo fizeram testes e chegaram a conclusão que é quase universal a sensibilidade das pessoas a esse tipo de comida.

O especialista explica que ninguém deve se alimentar com comida que contenha metais pesados, porque são nocivos e podem causar problemas de déficit de atenção (TDA), adultos podem ter problemas de Alzeimer ou esclerose múltipla. “Muitas doenças podem ser causadas por esses elementos tóxicos. O problema com o autismo é que quando a criança é exposta a esses materiais muito cedo é muito mais grave, porque seu cérebro está em fase de formação”, alerta.

Opiniões Controversas

Willian Shaw estava no grupo que primeiro descobriu essa terapia e diz que milhares de médicos no mundo todo estão usando o tratamento biológico. Na opinião do especialista, o maior problema para a completa adesão ao tratamento é a controvérsia da vacina. Ele explica que a utilização de vacinas é o mais importante elemento da prática médica de muitos pediatras. “Eles fazem aqueles check-ups regulares e aplicam as vacinas, então é muito difícil para eles aceitarem o fato de que possam estar prejudicando as crianças. Psicologicamente é muito difícil”, argumenta.

Mas, para o biomédico, a resistência ao tratamento também tem outro motivo. “Temos também o fato das indústrias farmacêuticas contrataram consultores para dizerem coisas contra as pesquisas, porque eles podem perder bilhões de dólares se os pais dessas crianças ganharem a causa na justiça”, denuncia. Para o especialista, é muito difícil alguém ter uma visão imparcial. “Todo mundo tem uma palavra orientada, de um lado ou do outro. Todos têm um interesse”, afirma.

Para o neurologista Jorge Baleta, os médicos brasileiros têm muita restrição a esse tratamento, por ser ainda uma novidade. Ele explica que, no Brasil, ainda não é comprovado cientificamente. “Não há estudos, evidencias e publicações em revistas científicas, então os médicos brasileiros ainda têm receios, não há trabalhos científicos abrangentes que demonstrem a eficácia do tratamento”, argumenta.

É preciso organização no Brasil

O especialista brasileiro considera que há falta de organização. “Se as sociedades de autistas se unirem e fizerem uma proposta sólida perante o governo para liberar o protocolo de tratamento biológico para autistas, o governo brasileiro pode aceitar. Ninguém ainda fez isso. Precisamos de uma proposta para ser apresentada ao governo e ao Ministério da Saúde”, declara.

Jorge Baleta acredita que é preciso fazer, no Brasil, uma estatística sobre a incidência do autismo tipo 2. “Com uma estatística teríamos mais força perante o governo para a aprovação do protocolo e tratamento individualizado para o autismo. Além disso, poderíamos ter comprovações até para modificar a vacina no Brasil, como aconteceu nos EUA, lá já conseguiram a vacina sem mercúrio”, diz.

Quelação

O neurologista Jorge Baleta explica que o tratamento é muito caro. A primeira parte do protocolo é o tratamento por uma dieta basicamente sem cafeína, sem carboidratos e sem glúten; e também proporcionar a melhora do intestino, tirando os fungos e reconstituindo a parede intestinal, através de pro-bióticos, substâncias que pertencem à flora intestinal normal. É importante que esse tratamento tenha acompanhamento psicológico, psico-pedagógico, fisioterapêutico e fonaudiológico.

A segunda parte do protocolo é a quelação, ainda não aceita pelo governo brasileiro. Esta etapa utiliza substancias capazes de capturar as toxinas e metais pesados que existam no organismo da criança autista e eliminá-las pela urina, mas essas substâncias são tóxicas também. Não há estudos no Brasil que avaliem esse tipo de tratamento, então o procedimento não é liberado pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde. Em outros países há esses estudos, então o tratamento é liberado. Jorge Baleta explica que, os Estados Unidos têm outro tipo de relação com experiências em seres humanos e essas substâncias. “Dentro da lei está especificado a experiência com seres humanos e, como deu certo a experiência com a quelação, o governo norte-americano aceitou o tratamento”, diz.

O neurologista lamenta que, por enquanto, apenas a parte da dieta possa ser feita no Brasil, porque as substâncias usadas na quelação não são recomendadas para uso em crianças. Mas alega que o governo brasileiro pode aceitar o protocolo de tratamento biológico para autista, levando em consideração as evidencias e estudos feitos no exterior. “O que falta é levar uma proposta ao governo”, enfatiza.

O biomédico Willian Shaw garante que a quelação via oral é bastante segura. “Provavelmente 35 mil pessoas no mundo usaram sem nenhum efeito colateral. Às vezes, em crianças, causa gases, mas nada grave”, afirma.

Mas o especialista diz que a quelação intravenosa é mais perigosa. “Existe pelo menos uma morte associada à injeção, porque o agente quelante combina elementos importantes. No caso da pessoa que morreu, usou-se a fórmula errada de agente de quelação, então diminuiu o cálcio no sangue. O coração não pode funcionar com baixo teor de cálcio e isto matou a criança. Isso foi por causa do uso incorreto da fórmula. Mas a quelação por via oral tem ótimo retrospecto, sendo usada há uns 40 anos, para tratamento de envenenamento por chumbo, no entanto o agente é eficiente para remoção de praticamente todos os metais, não somente chumbo” explica.

Willian Shaw garante que 90% das crianças podem ter grande progresso com esse tratamento e uma significativa parte delas pode ficar curada. Mas, para isso, o governo deve se empenhar para que os diagnósticos comecem cedo, aos dois anos de idade, e que sejam disponibilizados os testes e o treinamento técnico dos envolvidos no processo. O especialista lamenta que um número enorme de crianças fique prejudicado porque as famílias não têm como arcar com os custos do tratamento, ou não têm acesso a médicos com suficiente treinamento.

Texto extraído do Portal da Adefa - Associação em Defesa do Autista

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