Como todas as mães, eu sonhava com o futuro de George. Quem sabe seria um engenheiro? Um esquiador, com certeza. Era tão inteligente que freqüentava uma escola especial. Uma vez, eu contava uma dessas “histórias de mãe” para uma amiga e ela perguntou: “Que bom que George é perfeito. Você o amaria tanto se ele não fosse?” Pensei sobre a pergunta, mas a esqueci até o ano seguinte.
Um dia, aos oito anos, George se levantou com o pé apontando para cima, só conseguindo andar se apoiando no calcanhar. Percorremos consultórios médicos enquanto o problema atingia uma perna, depois a outra. Ouvimos alguns diagnósticos até chegar ao de distonia generalizada, um problema neurológico. Ele perderia a capacidade de andar e talvez o controle da maioria dos músculos, num doloroso processo.
Eu sentia muito ódio: de Deus, que fizera aquela maldade comigo e com meu filho, de mim, que de alguma forma causara nele um problema genético, e de George, por sua deformação.
Eu me envergonhava de andar com ele na rua. As pessoas o viam e rapidamente me fitavam com pena. Às vezes, eu não suportava olhá-lo, de tão torto e feio. Gritava para que ele andasse reto, porque não agüentava ver como ele se tornara deformado. George sorria, dizendo: “Estou tentando, mamãe.”
Eu não o achava mais bonito. Só conseguia ver suas pernas tortas, seus braços, costas e dedos tortos. Não queria mais amá-lo, porque tinha medo de perdê-lo. Não podia mais sonhar com o que ele seria no futuro, pois nem sabia se ele teria um futuro. Pensava sempre que não poderia dançar com ele no seu casamento.
Um dia, fiquei de coração tão partido ao vê-lo tentar colocar seus pés tortos no seu amado skate, que tratei de guardá-lo no armário, dizendo que era para ele “usar depois”.
Toda vez que lia para George na hora de dormir, ele me perguntava a mesma coisa: “Se rezarmos muito, você acha que vou estar andando quando acordar?”
“Não, mas acho que devemos rezar de qualquer jeito.”
“Sabe, mamãe, os outros meninos me chamam de aleijado, não querem mais brincar comigo. Não tenho mais amigos. Odeio eles. Me odeio.”
Tentamos todos os remédios, dietas e médicos possíveis. Procurei o centro de pesquisas sobre a doença e fundei a Associação Inglesa dos Portadores de Distonia. Dirigi minha vida para procurar a cura para esse mal, querendo que meu filho voltasse a ser normal.
Aos poucos, a relação com George foi me ensinando a perdoar, mas eu ainda me sentia paralisada pelo medo. Foi quando uma amiga me levou a um grupo de meditação, onde aprendi a praticar diariamente. Fui adquirindo uma paz interior que não conhecera antes, mesmo quando meu filho era perfeito. Descobri que o problema que vivíamos era uma chance de crescimento para nós, tão dolorosa quanto preciosa. Agora, o amor parecia maior do que qualquer sensação que eu pudesse compreender. Vi que George era meu professor e que a lição era o amor.
Sei que George sempre será um pouco diferente das outras crianças — mas é meu filho querido. Parei de ter vergonha quando seu corpo não estava reto. Aceitei que ele crescesse com perspectivas diferentes das outras pessoas. Mas ele se desenvolveu com mais paciência, mais ambição e mais coragem do que qualquer pessoa que eu já conhecera.
Aos dezoito anos, George conseguiu esticar uma das pernas. Jogou fora uma muleta. No mês seguinte, jogou a outra. Seu andar era capenga, mas andava sozinho. Veio visitar-me logo depois disso e, quando abri a porta de casa, vi na minha frente um rapaz alto e bonito.
“Oi, mamãe”, ele sorriu. “Quer ir dançar?”
Numa recente reunião de minhas colegas de escola, todas comentavam os sucessos dos filhos.
“Meu filho é músico.”
“Minha filha é médica.”
Quando chegou minha vez, falei com extremo orgulho: “Meu filho anda. E ele é perfeito.”
Sharon Drew Morgan
Sharon Drew Morgan
Trecho extraído do livro Histórias para Aquecer o coração das Mães
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