sábado, 2 de agosto de 2008

A Nutrição da Criança Autista - Parte 1

O autismo é um distúrbio neurológico com deterioração progressiva na interação social e na linguagem das pessoas afetadas, apresentando padrões repetitivos de comportamento. Ainda sem causa conhecida, esta desordem apresenta anormalidades no sistema límbico e cerebelar, estruturas importantes no controle motor e emocional do ser humano. Além desta anormalidade, observa-se também, alteração metabólica direcionadas para a importância de alguns nutrientes da alimentação do paciente autista. Isto se deve, principalmente, à detecção de elevados níveis de algumas substâncias no sangue dos pacientes, que são: gluteomorfina e caseomorfina, peptídeos derivados da proteína do glúten e da caseína respectivamente. Estes peptídeos apresentam similaridade às substâncias opióides e às suas ações no sistema nervoso central.

Também promovem outros efeitos, tais como: redução do número de células nervosas do sistema nervoso central e inibição de alguns neurotransmissores. De acordo com os dados observados, as substâncias opióides são derivadas de algumas proteínas da alimentação comum, tais como: o glúten e a caseína. Assim a terapia nutricional específica voltada para o paciente autista torna-se um dos primeiros pontos a ser discutido como tratamento. Portanto, com a eliminação padronizada e controlada dos alimentos que promovem a formação das substâncias similares aos opiódes da dieta dos autistas, percebe-se melhora significativa na sociabilidade e comunicação destes pacientes, bem como, uma redução dos efeitos de abstinência destes compostos. Diante de todas as implicações do distúrbio neurológico e metabólico do autista, este tratamento deve ser aplicado de forma interativa e multidisciplinar, sendo a nutrição um importante contribuinte no somatório para melhoria nas características e nos sintomas da desordem autista.

Segundo informações do “Centro de Tratamento Pfeiffer (PTC)”: AUTISM: RESERCH UPDATE (1995), os autistas apresentam, entre outras alterações, um defeito na função da proteína metalotionina que tem como função básica, a detoxificação de metais pesados, anormalidade esta que aparenta ser genética, tornando, o cérebro do autista extremamente sensitivo para metais tóxicos e outras substâncias ambientais. Esta proteína está, também, envolvida diretamente no desenvolvimento e maturação cerebral e do trato gastrintestinal nos primeiros anos de vida do ser humano.

Por outro lado, a função diminuída da proteína metalotionina dificulta também, a entrada de alguns minerais nas células. Entre eles estão o cobre e o zinco que são responsáveis pela maturação intestinal, função imune e crescimento celular.

De fato, algumas das principais evidências observadas no autismo são as anormalidades neurológicas e metabólicas. Diante disso, várias investigações têm sido direcionadas para a função de alguns nutrientes na alimentação do autista, objetivando uma melhora nos sintomas da desordem neurológica, e, tornando o tratamento nutricional um dos primeiros pontos que devem ser observados nas crianças autistas.

PANKSEPP (1979) em um experimento, observou similaridades dos sintomas dos indivíduos com autismo em relação a animais que consumiam experimentalmente opióides, no caso estudado: a morfina.

Em 1988, GILLBERG, detectou elevados níveis de algumas substâncias conhecidas na época por pseudo-endorfinas (substância com atividade opióide) no líquido céfalo-raquidiano de alguns autistas.

E em 1990, SHATTOCK identificou a presença de alguns peptídeos (pequenas cadeias de aminoácidos) anormais na urina de 80% das 1.100 pessoas autistas analisadas. Esses peptídeos são derivados do metabolismo incompleto de certas proteínas. O mesmo autor descreveu que uma parte desses compostos pode ser direcionada ao cérebro, provocando interferências na atividade dos neurotransmissores, devido sua ação neuro-regulatória e possível estimulação pré-sináptica. Os peptídeos anormais detectados foram nomeados de gluteomorfina ou gliadomorfina proveniente do metabolismo do glúten e a caseomorfina proveniente do metabolismo da proteína caseína.

As substâncias inicialmente já identificadas por PANKSEPP (1979) e depois por REICHELT (1981) foram confirmadas por SHATTOCK & LOWDON (1991) que sustentaram a seguinte hipótese: o autismo pode ser uma conseqüência da ação dos peptídeos de origem exógena, a qual afeta diretamente a neurotransmissão do sistema nervoso central dos indivíduos já afetados pelo distúrbio.

KNIVSBERG et al.,(1995) ao analisarem a urina de autistas, também, observaram níveis anormais dos mesmos peptídeos, provenientes de defeitos no metabolismo do glúten e caseína nestes pacientes (15).

Evidências têm mostrado que estes peptídeos, provenientes da quebra de alguns compostos protéicos, apresentam ação similar aos opióides, e, quando intactos podem atravessar a parede do intestino, atingir a corrente sangüínea e chegar ao cérebro em maior quantidade nos indivíduos autistas.

Nos últimos 30 anos, alguns autores têm relatado entre outros problemas uma série de disfunções gastrintestinais nos autistas. HORVATH & PERMAN (2002) descreveram alterações patológicas na permeabilidade intestinal, aumento da resposta secretória à injeção intravenosa de secretina e diminuição da atividade enzimática digestiva, o que demonstra uma conexão relativa entre as ações do cérebro e do intestino.

Entretanto, também existem relatos de doença celíaca e intolerância à lactose associada à síndrome do autista, embora um grupo considerável de indivíduos que apresentam essas desordens neurológicas em concomitância com outras, sejam passíveis de problemas na digestão das proteínas do glúten e da caseína, o que acrescentaria maiores problemas aos indivíduos afetados e maiores complicações na patogênese do autismo.

Diversos outros efeitos são observados quando os peptídeos opióides se elevam na corrente sangüínea, entre eles estão, a alteração do nível de acidez estomacal, alteração da motilidade intestinal e redução do número de células nervosas do sistema nervoso central e conseqüente alteração na neurotransmissão.

O excesso de atividade dos peptídeos opióides no sistema nervoso central também pode resultar em um grande número de interferências neurais por elevadas alterações funcionais de atividade nervosa, o que afeta diretamente a percepção, a emoção, o humor e o comportamento do autista, entre outros sintomas.

Diante das variações neurológicas de cognição e comportamento, as alterações metabólicas e os efeitos nutricionais dos peptídeos opióides nos autistas são significativos, segundo o grupo de REICHELT et al.,(1990) ao publicarem dados em relação a nutrição, demonstraram a efetividade dos programas de nutrição, apesar de alguns trabalhos ainda não serem considerados conclusivos e não estarem tão claros em relação a atividade nutricional para o autista.

No entanto, outros autores também têm considerado que o tratamento nutricional do autista é fundamental, através de embasamentos experimentais ou individuais, obtendo relatos de respostas efetivas. Os estudos de RIMLAND & BAKET (1996) mostraram dados positivos de melhora no tratamento nutricional quando unicamente utilizando a terapia baseada em medicamentos.

Diante das ações terapêuticas nutricionais existentes, o tratamento do autista é complexo e deve ser feito com base em uma série de abordagens clínico-nutricionais, com o objetivo também de detectar possíveis deficiências nutricionais decorrentes ou não da doença. Associado a isso deve ser feito, também, o levantamento semiológico completo da vida do paciente. Enfoques e evidências médicas que possam ser somadas as alterações neurológicas e/ou clínicas (tais como: uso de medicamentos que possam interferir no metabolismo de algum componente da dieta, distúrbios físicos e/ou psíquicos, entre outros), tornam-se importantes no tratamento geral do autista.

César Augusto Bueno dos Santos
Nutricionista
Prof. Patologia Geral
Coordenador Curso Nutrição – UNIFENAS/BH

Um comentário:

  1. Parabens pelo Blog, sou mae de uma linda criança autista, que iniciou a dieta com exclusao dos componentes da alimentacao que o Prof. Cesar Augusto Bueno dos Santos relata neste trabalho, participei de um congresso sobre autismo e ninguem comentou sobre a alimentacao, meu filho esta otimo e acredito que esta proposta de exclusao do gluten e caseina que o professor Cesar fala no seu trabalho.

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